
FANTASIAR
Fantasiar é o ato de imaginar ou criar cenários, histórias ou situações que não estão acontecendo na realidade. Esse processo pode envolver desejos, sonhos e anseios, permitindo que a mente explore alternativas e crie experiências emocionais. Também pode ser uma forma de escapismo, ajudando a aliviar o estresse ou a monotonia do cotidiano.
Acredito na fantasia porque ela permite sonhar
No Silêncio de Sua Fantasia
Ele imaginou correr, suas pernas já estavam em movimento na sua imaginação, mas só em imaginação. Na realidade, ele fitava a natureza selvagem daquela onça pintada: Linda e absolutamente magnífica. O animal parecia estudá-lo, e ele se viu perdido em um labirinto de sonhos e medos. Então, em uma fração de segundo, a onça se transformou em uma mulher de longos cabelos negros e olhar profundo, que sussurrou: “Por que tem medo de ser livre?”
Ele, surpreso, sentiu seu corpo aquecer enquanto a mulher estendia a mão. Num instante, a selva ao redor desapareceu, e ele estava dançando sob as estrelas, juntos, com a onça agora como companheira. Mas ao acordar de seu devaneio, encontrou-se em uma cela escura, os olhos da onça agora eram os olhares dos guardas, que o mantinham preso em seu próprio silêncio.
reflexões a fundo
A fantasia é frequentemente vista como um refúgio do real, um gênero que nos transporta para mundos de magia, dragões e heróis épicos. No entanto, ao aprofundarmos nosso olhar, podemos perceber que a verdadeira essência da fantasia está menos no escapismo e mais na reflexão sobre a condição humana.
Além dos tradicionais reinos mágicos e das batalhas contra forças sombrias, a fantasia tem o potencial de ser uma lente através da qual avaliamos nossas próprias limitações e sonhos. Em vez de meras narrativas de bravura, muitos autores contemporâneos estão usando a fantasia como um veículo para discutir temas profundamente enraizados na experiência humana: questões de identidade, pertencimento e a complexidade das relações interpessoais.
Imaginemos um mundo onde a magia não é uma força a ser controlada, mas uma metáfora para o potencial não realizado de cada indivíduo. Que tal uma sociedade onde a habilidade de conjurar feitiços é proporcional à capacidade de amar, de perdoar ou de entender o próximo? Nesse cenário, a verdadeira aventura não reside na batalha entre o bem e o mal, mas na jornada interna de cada personagem, que enfrenta seus medos, suas fraquezas e suas conexões com os outros.
Ainda mais, a fantasia pode se tornar um espaço de experimentação social, onde os tabus e as normas estabelecidos são desconstruídos. Histórias que desafiam o papel de gênero, a estrutura familiar ou as expectativas sociais, tudo isso pode emergir de mundos onde a realidade é moldada pela imaginação. Em vez de criaturas míticas, podemos encontrar espelhos que refletem nossas falhas e aspirações, permitindo-nos vislumbrar o que poderíamos nos tornar.
Portanto, ao considerar a fantasia sob essa nova luz, somos convidados a não apenas sonhar coletivamente, mas a enfrentar as sombras que habitam cada um de nós. O verdadeiro encantamento da fantasia pode, assim, residir na sua capacidade de nos ajudar a reimaginar não apenas outros mundos, mas o próprio mundo em que vivemos. Que histórias, então, podemos criar quando deixamos de lado os dragões e começamos a explorar os labirintos do coração humano?
aspectos da fantasia
1) Função terapêutica: A fantasia pode desempenhar um papel importante na saúde mental, permitindo que indivíduos explorem emoções e situações que, de outra forma, seriam difíceis de enfrentar. Ela pode promover o autocuidado e ajudar na resolução de conflitos internos ao criar um espaço seguro para reflexão. 2) Influência cultural: Narrativas de fantasia muitas vezes refletem e questionam normas sociais e valores culturais, desafiando preconceitos e oferecendo novas perspectivas. Elementos como mitologia e simbologia em obras de fantasia podem ressoar profundamente com questões contemporâneas, revelando verdades universais sobre a condição humana.
FANTASIA DE CRIANÇA
Saiu voando para pegar seu brinquedo. Uma boneca de pano. Sua voz continha narrativa. Uma narrativa infantil, trazendo a inocência pura da criança. No seu conteúdo, uma conversa com um extraterrestre talvez, que parecia disputar com Normanda aquela tão querida boneca. Se esta tinha nome, a fantasia de Normanda ainda não tinha revelado, mas dava para ver o entusiasmo da criança, capturando a boneca num salto incrementado pela energia de seus nove anos. A menina viajava por uma sensação que havia criado a sua mente, e o símbolo, como a boneca de pano, corporificava a sua realidade. Voar era voar mesmo, muito acima da força de expressão.
Normanda se elevou no ar, as nuvens a rodeando como algodão doce. O vento suave acariciava seu rosto, e ela sentia que estava dançando com as estrelas. A boneca de pano, chamada Lúcia pela primeira vez em sua cabeça, estava firme em seus braços. Era uma boneca mágica, com cabelos de lã e um vestido florido que parecia brilhar sob a luz do luar.
“O que você quer com a Lúcia, Sr. Zog?” Normanda gritou enquanto voava mais alto. A criatura que a acompanhava era pequena e verde, com olhos brilhantes que refletiam toda a curiosidade do universo. Zog, o extraterrestre, respondeu com uma risadinha que ecoava como um sino. “Eu só quero descobrir todas as histórias dela! Ela tem aventuras no seu mundo?”
Normanda sorriu, encantada com a ideia. “Oh, sim! A Lúcia já foi a princesa de um castelo encantado, navegou por mares cheios de sereias e até voou com fadas em noites de luar!” Cada palavra era uma nova nuvem na qual ela dançava, tecendo uma tapeçaria de fantasia em sua mente.
O espaço ao redor se transformou. Eles estavam agora voando sobre um enorme castelo de cristal, onde dragões de papel eternamente lhe faziam companhia. Normanda e Zog giravam em espirais, contornando torres repletas de mistérios. “Mas você não pode levar a Lúcia embora!” Normanda alertou, sem deixar de rir. “Apenas você e eu podemos brincar com ela!”
Zog fez uma careta engraçada, que fez Normanda rir ainda mais. “Está bem, Normanda! Só quero entender. O que faz da Lúcia uma amiga tão especial?” A menina parou e pensou, a boneca em seus braços parecia pulsar de alegria.
“A Lúcia me entende! Ela nunca me julga e sempre está pronta para aventuras! Ela é parte de mim!” A voz de Normanda ecoou como um canto doce, e o cenário ao redor resplandeceu com uma luz radiante, como se o universo inteiro concordasse com suas palavras.
E, claro, Zog encontrou a mágica que procurava. “Então, que tal um combinado? Em cada aventura que você tiver com a Lúcia, posso aprender sobre o que é ser humano e viver essas histórias por meio de vocês duas!” Um pacto simples, mas carregado de imaginação e promessas de brinquedos encantados.
Normanda sorriu de orelha a orelha. “Sim! Vamos nos divertir juntos! As aventuras nunca acabam!” Assim, se lançaram em várias histórias. Voaram sobre arco-íris, viajaram no tempo e até descobriram uma floresta onde as árvores contavam as maiores histórias do cosmos.
Lúcia, agora com um brilho especial, parecia vibrar em sintonia com o entusiasmo de Normanda e a curiosidade de Zog. A caça pelas histórias continuava, e a inocência da menina tornava cada momento mágico, como se o mundo tivesse sido feito de contos e canções. Em sua fantasia, Normanda não era apenas uma criança de nove anos, mas uma guardiã de sonhos, capaz de transformar cada dia em um universo de possibilidades infinitas.
E assim, entre risadas, piruetas e novas aventuras, ela voou, mantendo a boneca próxima ao coração, onde a verdadeira magia sempre reside.
Uma expressão de um desejo por fantasiar
Captar a essência das coisas somava; um mais um igual a dois sem dúvida. Mas havia outra unidade oculta à espreita de se revelar. Estava além do real concreto. Abrigava-se da luz que invariavelmente lhe colocava a ribalta. Queria operar sem os holofotes, apenas refletindo o que se passava por sua mente. O brilho de imaginar lhe autorizava a buscar exprimir o que se lhe passava pelo olhar agudo em busca de algo novo, ou talvez de alguma coisa não contada ainda. Mera utopia: tudo já havia sido contado, embora lhe restasse fantasiar o contrário disso. Não havia começo, meio e fim, nem tampouco um outro ordenamento. Fantasia. Tudo passava tão ligeiro que muitas vezes a mente se limpava de qualquer resquício da imaginação vivida ali no recôndito de sua crescente vontade de imaginar. Um retrato da essência transposta para o cenário da descoberta vivaz. Era ali que cabia toda boa fantasia.
uMA CASA À BEIRA MAR
Benjamin estava a postos, já acomodado ao sofá da sala, como fazia semanalmente em sua visita ao “Vô da Praia”, como ele gostava de se referir a seu avô Saul. É que o velho Saul lhe contava sobre uma antiga casa sua à beira-mar, onde aconteciam coisas mirabolantes, como visitas noturnas de monstros marinhos a centopeias cabeludas. Saul adorava fantasiar com o neto, que expressava aassombro e inquietude muitas vezes. Mas havia algo a mais nessa relação: Saul não possuiu casa à beira-mar, porque nunca saiu do interior onde morava há mais de sessenta anos. “Então você mentiu?”, perguntou o neto. “Não”, Saul respondeu. “Eu só vivi mais nos meus sonhos do que neste lugar.” Benjamin sorriu e se lembrou do havia lhe falado o avô certa vez: “Viver em vários lugares só depende de sua fantasia”.
A REAL FANTASIA
O Despertar do Comum
Ela acordou como sempre fazia: com o barulho do despertador, a luz do sol entrando pela janela e a sensação de que o dia seria igual a todos os outros. Mas, ao olhar para o espelho, algo estava diferente. Seu reflexo sorriu antes que ela o fizesse.
“Hoje não será um dia comum,” sussurrou o reflexo.
Ela hesitou, mas depois riu. Por que não?
O Caminho Secreto
No caminho para o trabalho, uma rua que ela nunca havia notado antes se abriu entre dois prédios. Era estreita, pavimentada com pedras irregulares, e no final havia uma porta verde desbotada. Sem pensar, ela entrou.
Do outro lado, não havia mais cidade—apenas um campo infinito sob um céu roxo, onde árvores balançavam ao som de uma música que ela reconhecia, mas nunca tinha ouvido.
O Guardião das Histórias
Um homem idoso, com olhos que brilhavam como estrelas, estava sentado em uma cadeira de balanço.
“Você finalmente chegou,” ele disse. “Estava esperando.”
“Onde estou?” ela perguntou.
“Onde as histórias começam e nunca terminam.” Ele estendeu a mão, oferecendo uma chave. “Você pode ficar ou voltar. Mas se ficar, lembre-se: a fantasia mais real é aquela que você escolhe viver.”
A Escolha
Ela segurou a chave, sentindo seu peso. Se voltasse, nada disso faria sentido. Se ficasse, talvez nunca mais visse sua vida antiga. Mas e se tudo isso fosse apenas um sonho?
Então, percebeu: não importava. A magia estava na dúvida, na possibilidade.
O Retorno
Quando pisou novamente na rua movimentada, a porta verde havia sumido. Ninguém ao seu redor parecia notar algo estranho. Mas no bolso do seu casaco, ela sentiu o metal frio da chave.
Sorriu. Talvez a verdadeira fantasia não estivesse em mundos distantes, mas na forma como ela decidisse ver o seu próprio. Ela tinha agora a chave dele; então, precisava usar essa preciosidade. Seu mundo a seus pés; somente seu, de mais ninguém. A magia estava dentro dela sempre, o tempo todo. Disso agora ela não tinha mais dúvida. A porta verde desbotada apareceu-lhe novamente à sua frente. Enfiou a chave que tinha no bolso e a porta sozinha se escancarou de inesperado. Não, não, não era um filme de terror, mas o mundo da sua fantasia a recebendo de porta aberta! “Venha! Entre e venha se distrair com a aventura da sua fantasia. O céu é o limite”. Ela entrou. E dali não saiu mais, do mundo de sua real fantasia.
Fernando de Noronha
Há um instante em que os olhos se perdem não no que veem, mas no que desejam ver. As fotografias se abrem na tela como janelas de um mundo paralelo—água tão azul que parece inventada, areia tão branca que poderia ser farinha de lua, rochedos tão antigos que guardam segredos de navegantes e tempestades. E você, ali, sentado no sofá da rotina, de repente sente o sal nos lábios.
É assim: o corpo fica, mas a alma zarpa. Os pés ainda estão no chão de sempre, mas a mente já mergulhou naquele mar impossivelmente turquesa. Você fecha os olhos por um segundo e ouve o barulho das ondas quebrando contra os costões—não as ondas de verdade, mas as ondas da memória que você ainda não viveu. E, no entanto, elas existem. Em algum lugar, aquele paraíso respira, espera, pulsa.
Não importa se você nunca pisou lá. Neste momento, Fernando de Noronha não é um ponto no mapa—é um estado de espírito. Um lugar onde o tempo não tem pressa, onde o vento sopra histórias em vez de obrigações, onde cada grão de areia é um convite a esquecer o relógio. E você sorri, sem perceber, porque a viagem já começou. A fotografia era só a passagem.
A vida é feita de fugas assim—pequenas, silenciosas, necessárias. Não precisamos de malas ou bilhetes para viajar; às vezes, basta um instante de coragem para deixar a mente escapar do lugar-comum. E quando ela volta, traz consigo um pouco daquele azul, um resto daquela luz, como um presente de um eu do futuro que já esteve lá e promete: um dia, os pés seguirão.
Por enquanto, basta o sonho. Porque sonhar também é morar, por alguns segundos, em um mundo onde tudo é possível—até a felicidade simples de existir em um lugar que parece feito de poesia, de uma fantasia real.
A Fantasia que Alimenta a Máquina
Dizem que sonhar acordado é coisa de gente distraída, perdida no mundo da lua. Mas e se for justamente o contrário? E se a fantasia for o combustível que a razão precisa para funcionar direito? A gente vive separando as coisas como se imaginação fosse território de artistas e crianças, enquanto o “pensamento sério” fica com os adultos de terno e planilha. Só que a verdade é que nenhuma ideia grande — seja na ciência, nos negócios ou na vida — nasceu só da lógica pura.
Pense bem: antes de qualquer invenção, alguém precisou imaginar que ela era possível. O avião começou como um devaneio de Da Vinci, a internet como uma utopia de ficção científica, aquele projeto que mudou sua carreira como um “e se?” solto na sua cabeça num domingo à tarde. A fantasia não é o oposto da razão; é o rascunho dela. É onde a mente testa hipóteses sem medo de errar, brinca com possibilidades antes de assumir o peso da realidade.
Claro, tem um limite. Viver só no mundo das ideias é tão perigoso quanto viver só no concreto — um te deixa flutuando, o outro engessado. O segredo está naquela zona híbrida onde você deixa a mente viajar, mas mantém os pés perto do chão. Como um arquiteto que primeiro rabisca livremente no papel e só depois pega a régua e o cálculo estrutural.
Talvez a gente devesse treinar a fantasia como quem treina um músculo. Deixar ela solta por um tempo, depois chamá-la de volta para conversar com a razão. Porque no fundo, as melhores decisões não são as puramente lógicas ou as puramente intuitivas, mas as que sabem misturar os dois ingredientes.
E aí fica a questão: será que não estamos subestimando aqueles momentos de devaneio, quando parecemos improdutivos mas, na verdade, estamos cozinhando as próximas grandes ideias? Ou será que o futuro pertence justamente a quem souber alternar — com consciência — entre o “era uma vez” e o “vamos aos fatos”?
O Jogo das Possibilidades
Fantasiava na ambiguidade. Sua facilidade, junto com sua dificuldade, era que a ambiguidade na sua fantasia tinha dois lados como uma moeda. Se fantasiava com uma tremenda viagem de férias, apareciam-lhe dois lugares maravilhosos que a impediam de decidir, ou viravam um tormento. Vanessa já tinha perdido a conta de quantas vezes viveu essa situação.
Vanessa fechou os olhos e, como sempre, a dúvida surgiu em cores vivas: Paris ou Tóquio? A Torre Eiffel brilhava em tons dourados, mas as lanternas de Akihabara piscavam em convite hipnótico. Seus pés deslizavam sobre calçadas de ambas as cidades, e o vento cheirava a croissant e a ramen ao mesmo tempo. Era delicioso e agonizante.
Seus amigos diziam que ela sofria de paralisia por análise, mas Vanessa sabia que não era bem isso. Ela não paralisava — ela vivia intensamente as duas escolhas, como se a realidade fosse apenas uma versão pobre da fantasia. Por que se contentar com uma só experiência quando poderia ter, pelo menos na mente, todas?
Até que um dia, enquanto devaneava entre comprar uma passagem ou adiar mais uma vez, percebeu que o trem já havia partido. Ou talvez nunca tivesse existido.
Agora, sentada no mesmo café de sempre, Vanessa sorri ao olhar para o céu. Não sabe se está sonhando com viagens ou se, de tanto sonhar, já viajou de verdade. E talvez não faça diferença. Afinal, a linha entre o que se deseja e o que se vive é tão tênue quanto a sombra de uma moeda no ar — sempre caindo, mas nunca revelando seu lado.