Breve resumo

Incomodado, Elio percebe que precisa agir. A primeira mudança é pequena: ele desliga as distrações e fica em silêncio consigo mesmo. É desconfortável, mas necessário. Ele entende que a evolução exige mudança de comportamento e pensamento.

Nauseado com esses pensamentos tenebrosos e literalmente sombrios, Elio percebe que precisa agir. “Pra já!”, disse quase num impulso. Mas o que fazer? As profundezas de sua natureza contêm escuridão, inconsciente do qual não tem acesso, a não ser por suas reflexões dolorosas que muitas vezes lhe custavam uma dor psíquica quase insuportável.

Sua primeira mudança parece insignificante: desliga-se das distrações que o celular pode trazer e vai até o quarto onde fecha as cortinas, deita-se acanhadamente, como se estivesse com medo de sua própria natureza humana, embora sentisse o bem desse primeiro passo. O silêncio consigo mesmo é o objetivo, mas o desconforto é notório. Dentro dele, apenas uma certeza: de que a evolução de si próprio depende de uma mudança de comportamento e pensamento. Sua respiração começa a se acalmar e ele encontra o respaldo de uma força íntima para continuar nesse caminho.

O ato de deitar-se na penumbra foi um ritual estranhamente solene. Não era um descanso; era um confronto. Ao fechar os olhos, não viu a escuridão relaxante do sono. Viu o vazio que tanto temia. O silêncio externo que ele criou fez o tumulto interno soar como um grito.

Cada coceira mental pedia para que ele levantasse, pegasse o celular, checasse uma notificação qualquer – qualquer coisa que fosse um anestésico para a dor de existir consigo mesmo. Era um desconforto físico, uma agitação nos nervos que insistia: Fuja. Distraia-se. Como você ousa encarar o que você é?

Ele respirava fundo, segurava o ar e soltava devagar. Não era uma técnica de relaxamento, era uma âncora. Cada expiração era um “não” silencioso à tentação de fugir. Cada inspiração, um “sim” trêmulo para ficar.

A certeza de que precisava mudar era o único farol naquela escuridão. Não uma mudança grandiosa e dramática, mas a microdecisão de permanecer. Ali, naquela cama, ele não estava lutando contra sua sombra. Estava fazendo algo mais radical: estava convidando-a a sentar-se. Estava dizendo, com aquele ato simples e corajoso: “Você é parte de mim. Não vou mais correr. Vamos, finalmente, nos entender.”

O medo não sumiu. Mas algo novo nasceu ao lado dele: uma faísca de curiosidade soberana. Se aquela sombra, aquela natureza complexa e assustadora, era realmente dele, então ele tinha o direito – não, o dever – de conhecê-la. A “dor psíquica insuportável” começou a se transformar. Já não era apenas dor; era a sensação crua de estar vivo, de sentir as próprias engrenagens internas rangendo para se moverem após anos de ferrugem.

Ele não se levantou da cama transformado. Levantou-se comprometido. O quarto era o mesmo. O mundo lá fora era o mesmo. Mas Elio havia dado o passo mais importante de todos: o primeiro. Ele havia trocado a paralisia da análise pela ousadia minúscula da ação. Havia entendido, no nível mais visceral, que a evolução não é um destino a ser alcançado, mas um caminho a ser percorrido, um passo de cada vez.

E aquele silêncio, que antes era tão aterrador, agora soava diferente. Já não era vazio. Era potencial. Era o campo fértil onde a semente da dúvida, plantada no capítulo anterior, finalmente poderia germinar.

Ele olhou para o caderno de esboços, ainda aberto na página dos pontos de interrogação. Em vez de ansiedade, sentiu um impulso diferente. Não era a resposta que ele buscava, mas a próxima pergunta. E pela primeira vez, isso não parecia assustador. Parecia… interessante.


Próximo Capítulo: A Sede do Saber – Aprender